quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Universidade do Algarve está a criar pepinos-do-mar em terra

Os chineses correm meio mundo em busca de uns animais, com o corpo em forma de chouriço, que fazem as delícias à mesa dos orientais – são os pepinos-do-mar, desprezados pelos portugueses. No mercado asiático, depois de secos, chegam a custar 150 a 200 euros por quilo.
Um dos pepinos-do-mar estudados na estação-piloto do Ramalhete, Algarve
Qual a diferença entre os pepinos produzidos em terra ou no mar? Só existe semelhança na forma e no facto de ambos serem comestíveis e de agrado popular – mas um é vegetal e o outro não. O preço de um pepino dos oceanos – animal da família dos ouriços-do-mar e das estrelas-do-mar – pode chegar aos 150 a 200 euros por quilo seco. Os chineses correm o mundo em busca destes animais, atribuindo-lhes propriedades singulares na alimentação e, na medicina popular, dizem ter poderes afrodisíacos. No Norte da Turquia, nos últimos dois anos, foram pescados 700 mil a um milhão de indivíduos por dia – uma razia que se está a repetir no Norte de África.
No Centro de Ciências do Mar da Universidade do Algarve, a investigadora espanhola Mercedes González Wangüemert, está a investigar há cinco anos aos pepinos-do-mar. Antes, esteve em Girona e Múrcia, Espanha, a estudar a genética de populações marinhas de outros animais, como pargos e lesmas-do-mar. Está preocupada com a inexistência de legislação que proteja estes invertebrados marinhos em risco de extinção nalguns pontos do globo e defende a monitorização das capturas. “Não existe legislação que regule a pescaria. A zona Norte da Turquia foi dizimada, e agora viraram-se para sul, colocando em perigo a sobrevivência das espécies.”
A partir do Norte de Marrocos estão agora a ser exportadas “toneladas de pepinos-do-mar” para São Francisco, nos Estados Unidos, onde há uma importante comunidade chinesa. A informação sobre o que se está a passar nesses mares tem-lhe chegado através de um investigador local que colabora com a equipa da Universidade do Algarve.
Nos mares do Índico e Pacífico, devido à procura desenfreada, há zonas onde estes animais quase desapareceram por completo. Por isso, uma vez esgotados os recursos nas zonas dos trópicos, as capturas passaram a fazer-se no Mediterrâneo e no Atlântico europeu. Além do valor nutricional (possíveis antioxidantes e ácido gordo ómega-3), pode ainda ser utilizado na obtenção de substâncias para fins terapêuticos. Na ausência de normas que protejam estes animais, as capturas são livres.
No Algarve, entre a comunidade piscatória, os pepinos-do-mar são conhecidos pelo nome popular que deriva da sua forma fálica. O tamanho médio da espécie Holothuria arguinensis oscila entre 15 a 20 centímetros, mas na ilha da Culatra, na ria Formosa, já foi encontrado um exemplar com 65 centímetros.
A equipa do Centro de Ciências do Mar da Universidade do Algarve, que inclui dez investigadores, conseguiu entretanto reproduzir pepinos-do-mar em sistema de aquacultura, na estação-piloto do Ramalhete, na ria Formosa. Nasceram há cerca de três meses as primeiras crias de uma das espécies de pepinos-do-mar de maior valor comercial – precisamente a Holothuria arguinensis, existente no Algarve, na costa ocidental de Portugal até Peniche, nas ilhas Canárias e no Noroeste de África.
“Isto é como cuidar de uma criança”, comenta Mercedes González Wangüemert, a coordenadora do projecto, ao observar o aquário os 40 juvenis, com 1,5 centímetros de comprimento.
É neste mundo aquático da Estação Experimental do Ramalhete – instalada num velho armazém de apoio às antigas armações de atum da Companhia de Pescarias do Algarve, perto de Faro, e rodeada de salinas – que a vida corre numa aparente tranquilidade. Jorge Domínguez Godino, um jovem biólogo espanhol com um doutoramento nesta área, recorda o momento em que, através de um choque térmico, na última Primavera, promoveu a reprodução induzida da Holothuria arguinensis – os machos lançaram o esperma na água, as fêmeas os óvulos e natureza fez o resto. O resultado não podia ser melhor. “Um êxito”, enfatiza.
Na fase seguinte, para o próximo ano, espera que não faltem apoios financeiros para levar a cabo o estudo noutras latitudes. “Ainda falta saber muito sobre estes animais”, comenta Jorge Domínguez Godino, lembrando que há 66 espécies comestíveis de pepinos-do-mar.
Próximo passo: a produção em escala

O CumFish, como se chama este projecto de investigação iniciado em 2012 e a terminar no próximo mês de Janeiro, permitiu estudar as cinco espécies de pepinos-do-mar sobre as quais se exerce a maior pressão a nível mundial: além da Holothuria arguinensis, a Holothuria polii e Holothuria tubulosa(que se encontram só no Mediterrâneo) e a Holothuria mammata eParastichopus regalis (que se encontram Mediterrâneo e Atlântico).
A reprodução conseguida no Algarve revestiu-se de particular significado por ser de uma das espécies de pepinos-do-mar mais cobiçadas, e não se conheciam as formas de a fazer multiplicar fora do seu habitat. O sucesso, explicou a coordenadora do projecto, foi conseguir fazer a passagem da fase de larva para juvenil, que é marcada pela “ocorrência de muitas mortes”, tanto em meio natural como em aquacultura. Por outro lado, salienta que, em paralelo, a equipa do Centro de Ciências do Mar “fabricou” as microalgas para alimentar as crias.


quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Carta para a Ministra Assunção Cristas – 125 ONG pedem que se comprometa a acabar com a sobrepesca já em 2015


Exma. Sra. Ministra,

Em 15 e 16 de dezembro, V. Exa. reunir-se-á com os seus homólogos para tomar uma decisão referente aos limites de pesca de unidades populacionais de peixe no Oceano Atlântico e águas adjacentes. A sua decisão será tomada no contexto da Política Comum das Pescas (PCP) reformada, a qual obriga, tanto quanto possível, a acabar com a sobrepesca até 2015 e, numa base evolutiva e gradual, o mais tardar até 2020, para todas as unidades populacionais.1

Sabe-se que mais de 40 por cento das unidades populacionais avaliadas no Atlântico Nordeste e águas adjacentes são alvo de sobrepesca. A diferença entre os limites de pesca adotados e os níveis de pesca recomendados cientificamente aumentou significativamente nos últimos dois anos, indicando uma tendência de agravamento no que se refere à sobrepesca.
Além disso, constatámos com preocupação que as recentes decisões do Conselho sobre os totais admissíveis de captura para o Báltico e para as espécies de profundidade falharam o objetivo de acabar com a sobrepesca em unidades populacionais sem que tenham sido apresentadas justificações.

Assim, solicitamos novamente a V. Exa. que cumpra o prazo de 2015 para todas as unidades populacionais, pois qualquer atraso em acabar com a sobrepesca irá simplesmente prolongar a degradação ambiental e as dificuldades socioeconómicas do sector das pescas. Com menos peixe, só poderá haver menos pesca.

Por favor, não desperdice esta oportunidade de proporcionar, às gerações atuais e futuras, não só unidades populacionais de peixe como ecossistemas marinhos saudáveis. Um número elevado de cidadãos da UE seguiu ativamente o processo de reforma da PCP, incentivando ministros e deputados do Parlamento Europeu a acordarem metas ambiciosas com vista a acabar com a sobrepesca. E, neste momento, esperam que V. Exa. implemente esta reforma sem demora.

De acordo com o regulamento de base, se V. Exa. ou qualquer um dos seus homólogos solicitar o adiamento do prazo de 2015, terá de apresentar elementos de prova específicos que demonstrem que a sustentabilidade social e económica das frotas pesqueiras envolvidas seria gravemente prejudicada pela decisão de acabar com a sobrepesca em 2015.3 Além disso, deve ser explicado como será reduzida a pressão de pesca de forma progressiva e gradual para níveis sustentáveis, o mais rapidamente possível e o mais tardar até 2020.

Chegou a altura de cumprir as expectativas da PCP reformada e de acabar com a sobrepesca na UE pelo bem do ambiente marinho, dos recursos haliêuticos e das comunidades que deles dependem.

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1 Regulamento (UE) N.º 1380/2013 do Parlamento Europeu e do Conselho de 11 de dezembro de 2013 sobre a Política Comum
das Pescas, Art. 2.2, http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=OJ:L:2013:354:0022:0061:EN:PDF.
2 Consultar Comissão Europeia, “Comunicação da Comissão ao Parlamento Europeu e ao Conselho respeitante a uma consulta
sobre possibilidades de pesca para 2015 no âmbito da Política Comum das Pescas” (COM [2014] 388 final),
http://ec.europa.eu/dgs/maritimeaffairs_fisheries/consultations/fishing-opportunities-2015/doc/com-2014-388_en.pdf.
3 Regulamento (UE) N.º 1380/2013 Considerando 7

http://pongpesca.wordpress.com/2014/11/27/carta-para-a-ministra-assuncao-cristas-125-ong-pedem-que-se-comprometa-a-acabar-com-a-sobrepesca-ja-em-2015/

Ciclo de debates - Conversas a bordo: "Arquivos e documentação histórica"



Dia 4 de Dezembro, Quinta-feira, às 18h00, debate sobre «Arquivos e Documentação Histórica», com os oradores André Teixeira (CHAM/UNL), Patrícia Carvalho (CHAM/UNL) e Paulo Alexandre Monteiro (IAP/UNL).
Ciclo de Debates "Conversas a Bordo" promovido pelo Museu Nacional de Arqueologia e pelo Centro Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática, da Direção-Geral do Património Cultural.
Pode assistir e participar em directo via internet no canal do EuroVision Museum Exhibiting Europe: http://ustre.am/1isEo