quarta-feira, 26 de junho de 2013

Aventura Creoula: 20 dias no mar


O fotojornalista Paulo Maria conta-nos a sua experiência numa expedição científica nos mares do Algarve




Embarquei no Navio de Treino de Mar 'Creoula' integrando a Campanha EMEPC/M@rBis/Algarve2013, organizada pela Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental.
Pensei que seria a forma ideal de passar uns dias de férias nos mares do Algarve e de desfrutar de um dos meus principais hobbies: o mergulho. Mas rapidamente percebi que não seria o caso.
O desafio é simples: acompanhar o grupo de cientistas e biólogos que vão explorar os vários locais representativos da biodiversidade marinha na costa sul de Portugal e que se dedicam a temas de estudo tão distintos como: amostragem do zoo e fitoplancton; identificação e mapeamento de habitats marinhos (projeto MESH Atlântico ); identificação de habitats de corais; recolha de dados sobre lixo e microplásticos nos fundos marinhos da costa algarvia (projeto POIZON), entre muitos outros.
Mal pude acreditar que iria desempenhar várias tarefas a bordo destinadas à guarnição, condição fundamental para todos os que integram esta campanha a bordo do 'Creoula'. Mesmo com mar chão e um pôr-do-sol que nos amarra ao bordo do convés, o tempo aqui passa a correr, sempre preenchido com atividades "lúdicas": descascar batatas na cozinha, lavar pratos na copa ou fazer parte da equipa das limpezas gerais.
Sou fotojornalista e vocaciono o meu trabalho para a indústria e desporto automóvel. Toda esta missão e comunidade ligada à ciência é nova para os meus sentidos. Deixei o pó dos troços de ralis, o ambiente dos circuitos de competição e, durante vinte dias, partilharei o espaço de convés e cobertas com 88 civis e a guarnição da marinha, que me vão assegurar um conhecimento científico mais rico sobre a biodiversidade marinha nacional.
Quero absorver toda a informação possível sobre o mar, a sua biodiversidade e recursos, bem como tentar decifrar os nomes científicos das amostras que os biólogos recolhem em cada mergulho. Para mim ainda são peixes, corais, búzios e estrelas-do-mar, mas estou convicto que, no final da Campanha, já conseguirei vociferar os nomes das principais espécies assim como da família a que pertencem, ou pelo menos das mais fotogénicas que passarem pela minha objetiva.
As minhas missões e projetos a bordo do Creoula passam por filmar os mergulhos e fotografar as espécies recolhidas em micro e macro fotografia para catalogação da biodiversidade marinha nacional.
Maravilhoso e surpreendente mundo novo!
Transformei um espaço do convés num estúdio fotográfico improvisado. Diante de mim, vão desfilando diariamente pequenos e minúsculos exemplares recolhidos pelos biólogos marinhos para catalogação e estudo a bordo. Procuro transformar a ciência em estética fotográfica ainda que sempre com o devido apoio e explicações dos biólogos sobre as características específicas de cada amostra.
A bordo de um dos navios mais icónicos da marinha portuguesa, partilharei com o leitor as aventuras e desventuras deste "instruendo", assim como as melhores imagens. Sobretudo darei a conhecer os vários projetos que estarão em curso durante a Campanha EMEPC/M@rbis/Algarve 2013.




sábado, 1 de junho de 2013

Vale mais um tubarão no mar do que na sopa

Receitas geradas pelo turismo de observação de tubarões deverão superar, nos próximos 20 anos, as obtidas através da captura, segundo um estudo agora divulgado.






Nos próximos 20 anos, as receitas geradas pelo turismo ligado à observação de tubarões em alto mar podem mais do que duplicar, ultrapassando os proveitos do negócio da captura para fazer sopa de tubarão, muito apreciada na Ásia.
Por ano, estima-se que sejam capturados 38 milhões de tubarões para responder à procura pela barbatana destes animais, sobretudo na China, para fazer sopa. Este número não está fechado - estudos recentes revelam mesmo que a realidade pode andar entre os 63 milhões e os 273 milhões.
O negócio rende anualmente 630 milhões de dólares (cerca de 485 milhões de euros), mas está em declínio, segundo especialistas do Canadá, Estados Unidos e México, citados num estudo publicado nesta quinta-feira no jornal Oryx-The International Journal of Conservation.
Por outro lado, o ecoturismo ligado à observação de tubarões em alto mar rende 314 milhões de dólares (242 milhões de euros), um valor que deverá mais do que duplicar nos próximos 20 anos, para 780 milhões de dólares (600 milhões de euros), segundo as estimativas dos autores.
“Esperamos que as pessoas reconheçam que os tubarões não são apenas valiosos no prato”, diz à Reuters o investigador que liderou o estudo, Andres Cisneros-Montemayor, da University of British Columbia, no Canadá.
A Ásia é o principal consumidor destes animais. Ainda nesta quinta-feira o governo japonês rejeitou reforçar as medidas de protecção do tubarão-de-pontas-brancas, do tubarão-sardo e de três espécies de tubarões martelo, aprovadas em Março pelos 178 países da Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas (CITES, em inglês).
Por outro lado, nos últimos anos, foram criados verdadeiros santuários de tubarões em locais como Palau, Maldivas, Honduras, Tokelau, Baamas, ilhas Marshal, ilhas Cook, Polinésia Francesa e Nova Caledónia. Nestes países, a captura e comércio de tubarão foi proibida.
“Muitos países têm incentivos financeiros significativos para a conservação de tubarões e dos sítios onde eles vivem”, disse à Reuters Jill Hepp, director da organização Pew Charitable Trusts, dedicada à conservação destes animais, e que participou no estudo.
Segundo o documento, o turismo leva cerca de 600 mil pessoas por ano a observar tubarões, desde os grandes tubarões brancos ao tubarões-martelo, garantindo assim 10 mil postos de trabalho em 29 países. Os autores esperam que os comerciantes ligados à captura de tubarões "convertam" o negócio, optando por ganhar dinheiro com a exploração de barcos para observação dos animais em alto mar ou até centros de mergulho.