terça-feira, 12 de abril de 2016

Marítimo-turística: é preciso simplificar e desburocratizar

Falta de legislação específica e excesso de burocracia dificultam a actividade.
Decorreu ontem, na Nauticampo, a Disputatio organizada pelo Jornal da Economia do Mar e com o tema “Que Maritimo-Turística Queremos”. O evento contou com a participação de João Mendonça, da WaterX, de Rui Roque, da Nautiber, do consultor Eduardo Almeida Faria, de Tomás Costa Lima, da Luso Yacht, de Pedro Vieira, da Lindley, e de Rui Azevedo, do Fórum Oceano.
Questionado sobre os principais desafios de quem tem um negócio marítimo-turístico João Mendonça apontou a questão do excesso de burocracia, nomeadamente aquando do licenciamento das embarcações. E deu um exemplo claro. A WaterX tem, há três anos, três embarcações que têm estado armazenadas (e sem funcionar) pela dificuldade em obter a licença. O modelo – airboats – não era conhecido em Portugal e só este ano a empresa conseguiu o tão desejado documento. Anteriormente, aquando do lançamento do catamaran, o processo demorou tanto tempo (meses) que a WaterX acabou por “perder” a época e só apresentar a embarcação no ano seguinte.
Ainda na parte da burocracia, mas numa outra vertente do negócio, o executivo acredita que seria possível simplificar. E ter os actuais nove documentos necessários para navegar num único. O que, inclusive, facilitaria o trabalho da Polícia Marítima aquando das fiscalizações.
A solução, para João Mendonça, passa pelo reforço (e qualificação) das entidades estatais que fazem as vistorias e “elaboram a papelada”, ou seja, tratam da parte administrativa. O número actualmente existente faz com que “eles humanamente não consigam fazer mais” (do que já fazem). Quanto à simplificação dos processos João Mendonça dá o exemplo da Capitania online como algo que está a funcionar. E bem.
“Ter e construir um barco em Portugal é um filme de terror”, foi esta a frase de introdução de Rui Roque. O executivo é um activo defensor de que deveria haver um reforço dos meios da DGRM. Mas, mais do que isso. Que é necessário que haja uma mudança de mentalidade da cultura e das atitudes das entidades estatais. Que assumam o papel de parceiros em vez de exclusivamente fiscalizadores. Sem esquecer a legislação. Ou mais precisamente a falta dela. É que Portugal limitou-se a adoptar a directiva europeia correspondente se ter feito as devidas adaptações (como aliás, fizeram a maioria – se não todos – os outros países).
Para Eduardo Almeida Faria tudo começa com algo aparentemente simples: definir o que é uma embarcação de recreio. E depois passar para a simplificação dos registos das embarcações e das cartas náuticas. O consultou apontou igualmente para a necessidade da formação náutica ter uma componente mais prática em detrimento de teórica. Processos que talvez ajudem a reverter a tendência actual de ter embarcações registadas sob a bandeira de outros países, nomeadamente Holanda e Bélgica. Porquê? Porque, por um lado, acarreta menos custos e porquê “traz menos chatices”.
Já Tomás Costa Lima apontou a falta de comunicação existente e a má percepção dos portugueses de Portugal como uma nação náutica. E isso é visível no rácio número de embarcações por habitante. Curiosamente esta percepção negativa é “apenas” uma auto-apreciação. Porque, para os outros países, Portugal é um país náutico, um país de marinheiros. Há é que saber transpor essa noção “cá para dentro” e incentivar a uma mudança de cultura.
Mas não basta ter embarcações. Há que ter serviços e uma envolvente apelativa e útil. E foi isso mesmo que Pedro Vieira chamou à atenção. Faltam infra-estruturas de apoio às embarcações. E relembrou que os navegadores querem visitar a envolvente onde atracam os seus barcos. Faz sentido o marítimo-turístico no rio Sado? Claro, porque há lá golfinhos. Que têm de ser preservados.
Para o executivo o primeiro contacto com terra (a marina ou porto portuário) é normalmente o parente pobre, tende a haver muito foco (e investimento) na embarcação e pouco nos serviços associados. E isto é algo que tem de mudar.
Pedro Vieira exemplificou a sua mensagem com um exemplo muito simples e claro. Em Roterdão, onde há tours para ver o porto, a empresa que comercializa essas visitas investiu tanto na estrutura (de apoio) como nas embarcações.
A solução para os problemas da marítimo-turística passa por se olhar para o negócio numa óptica de fileira. Essa é a opinião de Rui Azevedo que defende uma maior articulação e colaboração entre os vários actores. Só assim se consegue, entre outras coisas, promover a qualidade dos produtos e criar uma marca (para servir de bandeira ao país).
Estes são apenas alguns dos desafios. A audiência mencionou outros, que afligem quem está, diariamente, no terreno. É o caso de Maria José Vale, da Boat Center que apontou um facto muito simples: não há um CAE para a actividade náutica. Para esta executiva seria importante que houvesse um CAE que agregasse todas as actividades relacionadas com o mar. O engenheiro naval José Cruz, por seu lado, apontou falhas na área da regulamentação da profissão de engenheiro naval.

APORVELA e Escola Náutica juntas a bordo da The Tall Ships Races Lisboa 2016

Objectivo da parceria é o de colocar 500 tripulantes portugueses a navegar durante a regata Antuérpia – Lisboa – Cádiz – Corunha.

Associação Portuguesa de Treino de Vela – APORVELA – e a Escola Náutica Infante D. Henrique estabeleceram uma parceria com um fim muito especifico: promover o embarque de jovens tripulantes na The Tall Ships Races Lisboa 2016. A associação surge no decorrer do programa APORVELA Jovem, que se destina a proporcionar treinos de vela e experiências de mar aos jovens. Programa que permite que jovens, que não necessitam de ter qualquer tipo de experiência de mar para se inscreverem, participem, durante o tempo que estão a bordo, em todas as actividades que tornam possível a navegação do navio.
A parceria agora anunciada tem como meta o ultrapassar a fasquia de ter 500 tripulantes portugueses a navegar durante a regata Antuérpia – Lisboa – Cádiz – Corunha.
Para ajudar a promover a The Tall Ships Race Lisboa 2016 e ajudar a alcançar “o” objectivo a APORVELA estará, no próximo dia 13 de Abril, no no Seminário “Náutica de Recreio” e na entrega de prémios da XII Regata da ENIDH & COMM, organizado pela Escola Náutica.A The Tall Ships Races 2016 chega a Lisboa a 22 de Julho e tem como co-organizadores a Câmara Municipal de Lisboa, a Administração do Porto de Lisboa, o Lisbon Cruise Terminals e a APORVELA – Associação Portuguesa de Treino de Vela.

quinta-feira, 7 de abril de 2016

"Museu subaquático" dos Açores vai ter centros interpretativos em terra em 2017

Mil naufrágios documentados tornam o mar dos Açores num "museu subaquático", com "cápsulas do tempo" já visitáveis através de mergulho, mas que o Governo Regional quer potenciar, criando em 2017 centros interpretativos em terra.
 
“Estamos a encetar um processo de criação de centros interpretativos em terra, para que quem não mergulha possa usufruir na mesma dessas histórias de odisseias trágico-marítimas. Simultaneamente, apostamos em barcos com fundo de vidro”, afirmou à agência Lusa o arqueólogo da Direção Regional da Cultura José Luís Neto.
O roteiro do património cultural subaquático nos Açores é atualmente constituído por 25 parques arqueológicos subaquáticos visitáveis através do mergulho. O primeiro foi criado em 2005 na baía de Angra do Heroísmo, ilha Terceira, local onde se conhece a existência de uma centena de naufrágios.
“Aqui chegavam todos os navios de todas a rotas de todo o mundo antes de chegarem à Europa e, por isso mesmo, nós temos aqui pedaços, fragmentos, cápsulas do tempo de toda essa riqueza”, destacou José Luís Neto, acrescentando que nos Açores há navios naufragados que “fizeram a rota do chá, travaram guerras da independência americana e que representam a industrialização agrícola”.
Presentemente, as visitas aos 25 parques arqueológicos subaquáticos são acompanhadas pelos mergulhadores dos clubes navais ou operadores marítimo-turísticos das diferentes ilhas do arquipélago, que funcionam como guias, existindo também como auxílio pequenos documentários em vídeo sobre o que é possível encontrar dentro de água.
“Nestes 25 sítios nós temos navios com graus de integridade e importância histórica muito diferentes. Temos naufrágios a 60 metros de profundidade, mas também temos um naufrágio, que é o caso do ‘Canárias’, que está a três metros e que, portanto, qualquer pessoa que esteja em Santa Maria, na praia Formosa, pode pura e simplesmente, com um par de óculos, usufruir dele, desde que saiba nadar”, adiantou o arqueólogo.
Recentemente, o diretor regional da Cultura vincou que o roteiro do património cultural subaquático, que já foi objeto de manifestações de interesse por parte das Canárias e da Madeira, pretende potenciar este património na vertente turística, estudo e investigação, assim como salvaguardar a sua preservação futura.
Entre os parques subaquáticos açorianos devidamente regulamentados está o 'Dori', próximo da cidade de Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, o 'Caroline', na ilha do Pico, o 'Slavonia', na ilha das Flores, o 'Canarias', em Santa Maria, entre muitos outros.
Segundo José Luís Neto, “os tesouros” trazidos a bordo dos navios naufragados estão expostos nos museus da região ou na posse de cidadãos.
“Por exemplo, na ilha das Flores, quando as pessoas queriam receber muito bem alguém de fora, utilizavam as loiças precisamente do transatlântico ‘Slavonia’. O mesmo se passou no Pico com o ‘Caroline’ e o mesmo se verificou em Santa Maria com as peças do ‘Canarias’”, sustentou o arqueólogo.

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Congresso Internacional: “A Guerra no Mar”, Cascais

“A Guerra no Mar” junta especialistas nacionais e internacionais e mostra navio de guerra em Cascais.
No âmbito do Congresso Internacional “A Guerra no Mar: Combates e Poder Naval nos Séculos XIX e XX”, que decorre dias 8 e 9 de abril no Centro Cultural de Cascais, estará ancorada na baía de Cascais, com o apoio da Marinha Portuguesa, a corveta Jacinto Cândido que, caso as condições meteorológicas o permitam, o público terá possibilidade de visitar.
O congresso, de entrada livre mediante inscrição gratuita através de arquivo.historico@cm-cascais.pt ou waratseacascais@gmail.com, abordará diversas temáticas de cariz histórico, com particular destaque para os períodos da I e II Guerras Mundiais, tendo por fio condutor o mar que, ao longo da história, se afirmaria como território de conflito.
Andrew Lambert, do King’s College (Londres) e António José Telo, da Academia Militar, são os conferencistas que abrem a sessão de trabalhos do primeiro dia do evento.
No segundo dia, que comportará uma conferência a cargo do reputado investigador Lincoln Paine, o painel dedicado ao “Património Cultural e Subaquático” contará com comunicações de Fátima Claudino, Alexandre Monteiro, Paulo Costa e de dois arqueólogos subaquáticos ao serviço da autarquia de Cascais, Jorge Freire e António Fialho, em que se evocarão, por exemplo, as histórias do rebocador Patrão Lopes e do caça-minas Roberto Ivens, que têm vindo a atrair a atenção da comunicação social desde o final do ano passado, no âmbito da evocação do centenário da Grande Guerra.
Estes académicos e investigadores – provenientes de instituições de referência como a Academia Militar, o CINAV, a Direção de Infraestruturas do Exército, a Escola Naval, a King’s College, a UNESCO ou as Universidades Nova de Lisboa e do Porto – marcarão presença em Cascais de forma a promover e sedimentar o conhecimento acerca destas importantes temáticas, com repercussões locais, nacionais e internacionais, realçando simultaneamente a milenar ligação de Cascais ao Mar.
O evento é organizado pelo Instituto de História Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa em parceria com a Câmara Municipal de Cascais.
Fonte: C.M.Cascais

Informações úteis
Inscrições para o Congresso: arquivo.historico@cm-cascais.pt | waratseacascais@gmail.com
Inscrições para visita à corveta, limitadas ao n.º de lugares disponíveis: arquivo.historico@cm-cascais.pt | 21 481 57 38

Programa em