sexta-feira, 26 de junho de 2015
terça-feira, 23 de junho de 2015
Ilhas de plástico - Que fazer? - Lisboa
O lixo marinho é um problema global, com impacto na biodiversidade e nos ecossistemas do meio marinho, na economia e na saúde das populações. O que fazer para solucionar este problema? Assista à conferência com Lia Vasconcelos, investigadora do Departamento de Ciências e Engenharia do Ambiente da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa e do IMAR – Instituto do Mar.
Inscrições emhttp://bit.ly/1yDS3l4
2ª Festival do Atum, Vila Galé Albacora - Tavira
Entre os dias 26 e 28 de Junho decorrerá no Hotel Vila Galé Albacora, Tavira, o 2º Festival do Atum, com várias atividades a decorrerem de sexta a domingo.
quinta-feira, 18 de junho de 2015
"Artes de Pesca" no Museu Nacional de Etnologia, Lisboa
O colóquio e os workshops realizam-se no âmbito da exposição temporária "Artes de Pesca: pescadores, normas, objetos instáveis", patente ao público no Musei Nacional de Etnologia.
O principal objetivo do colóquio é debater e refletir sobre as culturas marítimas em Portugal, dando a conhecer as atuais dinâmicas do estudo, documentação e valorização daquelas culturas nas perspetivas da ação museológica e da salvaguarda de património imaterial.
19 junho | 4 workshops temáticos
26 junho | colóquio
Mais informações: https://mnetnologia.wordpress.com/destaques/
Como potenciar os vestígios arqueológicos do Rio Arade?
“Vestígios
arqueológicos do rio Arade – Um património a potenciar”, com a presença do
arqueólogo Cristóvão Fonseca, é o tema da terceira tertúlia promovida pelo
Grupo dos Amigos do Museu de Portimão, que terá lugar esta sexta-feira, dia 20
de Junho, às 18h30, neste museu, com entrada livre.
Segundo os Amigos do Museu de Portimão, «o estado de
conhecimento do património cultural subaquático do estuário do rio Arade, os
principais sítios arqueológicos conhecidos e o seu valor científico, justificam
a implementação de um programa de investigação contínuo e um projeto de
valorização e divulgação orientado para diferentes públicos».
Este será o ponto de partida para promover um debate que
pretende identificar oportunidades e apresentar propostas no sentido de
reconhecer e potenciar este património.
Cristóvão Fonseca, que já foi responsável pelo extinto Núcleo de
Arqueologia Subaquática do Museu de Portimão, integrou também os trabalhos que, durante três verões consecutivos, de 2003 a
2005, decorreram no Rio Arade, sob direção de Francisco Alves, então
diretor do Centro Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática (CNANS).
Denominadas campanhas ProArade, destinaram-se a investigar, sob
o ponto de vista arqueológico, o leito do Arade, que, pelo menos desde a década
de 70 do século passado, se sabia ser um repositório de vestígios de grande
importância.
No último ano da campanha, em 2005, o objetivo da equipa de
arqueólogos subaquáticos foi desmontar uma embarcação afundada há 500 anos, dos
séculos XV ou XVI, conhecida como «Arade 1», que se encontrava enterrada no
lodo do fundo do rio.
O objetivo era, então, não só salvar e registar os vestígios
raros de uma embarcação tão antiga, como, no futuro, construir «uma réplica do
barco à escala natural, para ser colocada no Museu de Portimão». Tal réplica
nunca chegou a ser feita, mas pode ser que, da tertúlia, surja alguma luz sobre
este assunto.
sexta-feira, 5 de junho de 2015
Estratégia da União Europeia para o Mar está em consulta pública a partir de hoje
Numa iniciativa
inédita, a Comissão Europeia vai dar oportunidade a outros Estados, empresas e
sociedade civil para contribuírem com sugestões para a sua estratégia marítima.
Anúncio foi feito hoje, na conferência internacional World Ocean Summit, que decorre
em Cascais.
A partir desta quinta-feira e até ao
próximo dia 15 de setembro, a Comissão Europeia estará disponível para
ouvir outros governos e instituições internacionais sobre o seu plano para a
Economia Azul e sobre a forma como pode contribuir para o bom governo dos
oceanos e mares. Numa altura em que os Estados e investidores privados olham
com apetite para os negócios vindos do mar e das suas profundezas, a regulação
destas atividades, como a exploração mineral ou a aquacultura, torna-se
crucial.
Afinal, estamos a falar de um bem público,
"que a todos pertence" e, como tal, "é preciso ouvir todas as
partes interessadas", explicou esta quinta-feira o comissário europeu para
o ambiente, assuntos marítimos e pescas, Karmenu Vella. A iniciativa de
consulta pública foi anunciada na conferência World Ocean Summit, organizada
pela revista Economist e que decorre hoje e amanhã, em Cascais.
"Nós precisamos mais dos oceanos do
que os oceanos precisam de nós. Se não estiverem em boas condições, a nossa
economia estará doente", afirmou Vella. Questões como a sobrepesca ou a
falta de regulação na exploração do solo oceânico colocam em causa a
sustentabilidade dos oceanos - e estão a ser discutidas nesta conferência que
junta ministros, decisores e investidores da Economia Azul, e que decorre
simultaneamente com a iniciativa do Governo, a BlueWeek, que junta a partir de
hoje 70 ministros do Mar, provenientes de todas as partes do mundo.
Atualmente, a economia azul vale em média
5% do produto interno bruto europeu e é responsável por quase 5 milhões de
empregos. "É importante que União Europeia defina rapidamente qual o papel
que deve ter no desenvolvimento sustentável da economia baseada nos
oceanos", referiu o comissário europeu.
Na sua estratégia para a Economia Azul, a
ser desenvolvida nos próximos anos, a Comissão Europeia elegeu cinco áreas
prioritárias de desenvolvimento e investimento: os recursos minerais, as
energias renováveis marinhas, a biotecnologia azul, a aquacultura e pescas, e o
turismo costeiro e marítimo.
A consulta pública pode ser feita a partir
da internet, na página da Comissão Europeia sobre os assuntos marítimos.
Karmenu Vella espera que organizações internacionais, atores estatais,
organizações não governamentais, empresas, a academia, os centros de
investigação e a sociedade civil estejam disponíveis para dar o seu contributo.
Economia
azul apenas vale 3% do PIB português
Kermanu Vella participou no painel de
debate que juntou Assunção Cristas, a ministra da Agricultura e do Mar, à sua
homóloga norueguesa, Elisabeth Aspaker, e a Kathryn Sullivan, a subsecretária
norte-americana para os oceanos e atmosfera.
A governante portuguesa lembrou que a
Economia Azul tem de ser pensada globalmente, através da discussão entre os
Estados, para definir estratégias e jurisdições, mas a ação tem de partir de
cada país, das instituições globais. "Não podemos esperar todos uns pelos
outros. Essa é a melhor desculpa para não fazermos nada", referiu. Cristas
tem dito que o lançamento da BlueWeek, a cimeira internacional que está a
decorrer em Portugal e que tem a ambição de se tornar num evento anual, é uma
forma de Portugal assumir a liderança no debate e ação sobre os oceanos.
Apenas 3% do PIB português, cerca de 5 mil
milhões de euros, provém das atividades diretamente ligadas ao mar. Nada que
abale Assunção Cristas: "O potencial de crescimento da economia azul em
Portugal é imenso", referiu.
quinta-feira, 4 de junho de 2015
Núcleo museológico dedicado aos descobrimentos portugueses
No dia em que se assina o Dia da Marinha, dia 22 de maio, a Câmara Municipal de Lisboa, a Marinha Portuguesa, a Associação Turismo de Lisboa (ATL) e a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova de Lisboa assinaram um protocolo, com o propósito de construir na Ribeira das Naus, um núcleo museológico dedicado aos Descobrimentos Portugueses – “Polo Descobrir”.
Assinaram o protocolo, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina, o Chefe do Estado-Maior da Armada, Macieira Fragoso, o diretor-geral da ATL, Vitor Costa e o Prof. Doutor João Costa, diretor da FCSH.
“No nosso país não temos muitas histórias para contar ao mundo mas temos uma grande história única contar e chegou o momento de dar a conhecer. Este projeto fará nascer, na Doca Seca, local onde eram construídas as embarcações no século XVIII, a reprodução de uma nau, em que se mostrará como é que ela era construída, como se preparavam as viagens, como é que se preparava aquilo que deu numa descoberta, os descobrimentos portugueses" explicou Fernando Medina.
No discurso que proferiu, Fernando Medina explicou que aquilo que se pretende com este investimento não é criar “um museu dos Descobrimentos, hegemónico”, mas sim “um elemento que contribua para contar bem essa história”. A expectativa do presidente da autarquia é que o passo agora dado seja “o primeiro de um projeto mais ambicioso”, que passe pelo surgimento de vários “pólos museológicos” sobre esta temática “unidos em rede”.
Pela parte da Marinha, o chefe do Estado-Maior da Armada defendeu que o núcleo museológico que vai ser criado vai “dar um novo ímpeto à difusão da história portuguesa, em particular da marítima”. O almirante Luís Macieira Fragoso manifestou ainda satisfação com o trabalho já feito na Ribeira das Naus, sublinhando que tem havido “uma adesão massiva dos cidadãos de Lisboa e de todos aqueles que nos visitam” ao espaço, que foi requalificado nos últimos anos.
Com conclusão da obra prevista para o verão de 2016, a criação do núcleo museológico será em terrenos municipais ou cedidos ao município com múltiplas vertentes, particularmente de âmbito científico e cultural. Terá uma programação regular e será integrado na oferta cultural e turística da cidade de Lisboa.
Blue Week, Lisboa: Mar no centro do debate político
Setenta ministros do Mar vão estar a partir desta quinta-feira em Lisboa numa cimeira, ao mesmo tempo que se realiza a Conferência dos Oceanos da revista "Economist"
Setenta ministros do Mar, da China ao
Kiribati, passando pelos países de língua portuguesa e praticamente todos os
mediterrânicos, para além das grandes economias azuis, como o Canadá, Austrália
e Noruega, vão estar a partir de quinta-feira em Lisboa, numa cimeira inédita a
nível mundial.
Esta reunião faz parte da Semana Azul
(BlueWeek, 3-6 de junho), uma ideia da ministra Assunção Cristas, que se
inspirou na chamada Semana Verde, que decorre anualmente em Berlim e que junta
os ministros da Agricultura de todo o mundo. Tal como este evento, a ministra
pretende fazer de Lisboa o ponto de encontro anual dos decisores ao nível do
Mar.
A realidade superou as expectativas:
Cristas contava com 20 ministros, recebeu a confirmação de praticamente 70 dos
seus homólogos. Para além destes, marcarão presença representantes da ONU, da
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), da Comissão
Europeia e da Cimeira Ibero-Americana.
Os Estados Unidos enviam a subsecretária
de Estado Chaterine A. Novelli, com a pasta das políticas ligadas ao
crescimento económico, energia, oceanos, ciência e tecnologia.
A cimeira, que decorre na próxima
sexta-feira no CCB (Lisboa), terá como ponto alto a aprovação de uma declaração
conjunta.
A BlueWeek inclui ainda um fórum
empresarial (Blue Business Forum), com a participação de 200 entidades, entre
empresas (nacionais e internacionais), centros de investigação, institutos de
ciência e investidores estrangeiros, que decorrerá entre quinta-feira e sábado,
na FIL, no Parque das Nações (Lisboa).
A nova
economia azul
Em simultâneo, decorrerá pela primeira vez em Portugal a World Ocean Summit, uma iniciativa da revista Economist e que junta habitualmente centenas de participantes. No ano passado, na Califórnia, onde se realizou a segunda edição desta conferência, o Presidente Cavaco Silva foi o convidado de honra do evento, que foi inaugurado pelo secretário de Estado norte-americano John Kerry.
Criada a partir da ideia de uma nova
economia e de um novo paradigma emergente de negócio (a economia azul), a
Conferência dos Oceanos visa colocar o Mar na agenda política mundial, reunindo
políticos e empresários para discutir temas tão amplos quanto a
sustentabilidade da atividade económica, a proteção ambiental e a investigação
associadas ao mar.
Que o mar é importante ninguém dúvida.
Cobre três quartos do planeta (1.300 milhões de quilómetros cúbicos de água),
constitui o maior ecossistema único do mundo e contribui de forma decisiva para
a existência da vida na Terra. Alimenta um vasto conjunto de serviços e
recursos, que prestam apoio à saúde humana, assim como às sociedades e
economias.
De acordo com o relatório “Do declínio à
recuperação — Um plano de resgate para o oceano mundial”, da Comissão Mundial
dos Oceanos, o valor de mercado dos recursos marinhos e costeiros equivale a
2,72 mil milhões de euros (cerca de 5% do PIB mundial).
Ao mesmo tempo, 3 mil milhões de pessoas
dependem do mar para a sua subsistência, sendo que ele assegura 350 milhões de
empregos em todo o mundo; 97% dos pescadores vivem em países em desenvolvimento.
A cobiçada sardinha
Nunca como agora se pescou tanto, o que
põe em causa a sustentabilidade dos 'stocks' do pescado mundial. Se, em 1950,
apenas 1% da pesca era feita em alto mar, essa percentagem subiu para 63% em
2006 (os últimos dados disponíveis). Nessa altura, já 87% das espécies estavam
sobreexploradas ou em vias de extinção.
O exemplo da sardinha, que tanto toca ao
português (consome 13 exemplares por segundo, segundo contas do jornal
Público), mostra bem esta realidade. Entre 2011 e 2014, a pesca desta espécie
caiu das 55.223 toneladas anuais para umas escassas 15.824 (dados do INE). Em
consequência, está cada vez mais cara: num ano, o seu preço na lota aumentou
39,3%.
Em 2006,
já 87% das espécies estavam sobreexploradas ou em vias de extinção
Este cenário de escassez é o resultado da diminuição abrupta dos 'stocks' de pescado. A sardinha, apesar de não ser alvo das quotas de pesca europeias, é objeto de constante monitorização: assim que a estabilidade dos 'stocks' é posta em causa, a pesca é suspensa. Em 2014, foi-o a partir 20 de setembro e só retomada no início de março deste ano.
Mas este não é um panorama unicamente
português. Na Califórnia, vive-se o mesmo drama: os Estados Unidos levaram 40
anos para repor os seus 'stocks' de sardinha, que estão, de novo, ameaçados.
Em Portugal, os mesmos dados do INE
mostram que o pescado transacionado em lota em 2014 caiu para o nível mais
baixo desde que há registo oficial (1969): foram descarregadas nos portos
nacionais 119.890 toneladas de peixe fresco e refrigerado, um recuo de 17,1%
face ao ano anterior. A redução das capturas de sardinha, atum e cavala é a
grande responsável pela quebra das pescas portuguesas.
A grande “sopa de plástico”
Outro dos dramas que afeta os oceanos são
as verdadeiras “ilhas de lixo” que circulam pelas águas de todo o mundo. A
maior “sopa de plástico” encontra-se no Pacífico, estimando-se que a sua
dimensão é duas vezes o tamanho do Estado norte-americano do Texas.
Até
2050, 33 mil milhões de toneladas de plástico acumular-se-ão nos oceanos
Oitenta por cento dos detritos marinhos provêm de terra e acabam nos oceanos por ação dos ventos e das correntes. De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUMA), 15% dos detritos marinhos flutuam à superfície; 15% permanece na coluna de água; e 70% repousa no fundo do mar. Segundo o relatório da Comissão Mundial dos Oceanos, 33 mil milhões de toneladas de plástico acumular-se-ão no oceano até 2050.
Alerta
mais que vermelho para este grande recurso azul que, de acordo com a ONU, terá
de ser o grande produtor de alimentação para a crescente população
mundial.
quarta-feira, 3 de junho de 2015
Arqueólogos descobrem destroços de navio negreiro português na África do Sul
Pela primeira vez foram encontrados vestígios de um naufrágio que terá ocorrido com escravos a bordo. Uma descoberta histórica que poderá avançar o conhecimento actual sobre o tráfico transatlântico, dizem os investigadores.
Há 30 anos, caçadores de tesouros descobriram os destroços de um naufrágio
ao largo da Cidade do Cabo, na África do Sul, que identificaram como sendo de
um navio holandês afundado em meados do século XVIII. Só em 2010 é que uma
equipa internacional de arqueólogos marítimos suspeitou que o navio podia ter
outra origem.
Seriam
precisos mais cinco anos de pesquisa e múltiplos mergulhos em águas furiosas
até que os investigadores anunciassem, esta terça-feira, a sua descoberta
histórica: um navio português carregado de escravos proveniente da ilha de
Moçambique e a caminho das plantações de açúcar no Brasil.
Transportando entre 400 e 500 negros acorrentados no porão, o navio nunca
terá chegado a completar a travessia de quatro meses, entre o Oceano Índico e o
Atlântico Sul. Depois de dobrar o Cabo da Boa Esperança, o São José
Paquete de África embateu em rochedos a cerca de 50 metros da costa da
Cidade do Cabo e ficou reduzido a escombros. O capitão português sobreviveu,
bem como a tripulação e metade dos escravos que se encontravam a bordo.
Calcula-se que 212 escravos tenham morrido no naufrágio, que se deu no final de
Dezembro de 1794.
Trata-se da primeira pesquisa arqueológica realizada sobre um navio que se
afundou enquanto transportava escravos. “Já se encontraram navios que em tempos
carregaram escravos mas que não naufragaram durante a viagem. Este é o primeiro
de que temos conhecimento que se afundou com pessoas escravizadas a bordo”,
disse Lonnie Bunch, director-fundador do Museu de História Afro-Americana, que
vai abrir em Washington no próximo ano e que irá expor objectos resgatados do
local do naufrágio.
Os responsáveis pela investigação acreditam que ela pode avançar o
conhecimento actual sobre os 12 milhões de pessoas que foram capturadas em
África e transportadas à força para a América do Norte, do Sul, Caraíbas e
Europa. E o São José é “especialmente significativo”, nota
Lonnie Bunch num comunicado, “porque representa uma das primeiras tentativas em
incluir africanos da costa oriental no tráfico esclavagista”, prática que se
prolongou até ao século XIX. Supõe-se que mais de 400 mil africanos tenham sido
levados de Moçambique para o Brasil entre 1800 e 1865.
Esta descoberta resulta do trabalho desenvolvido pelo Slave Wrecks Project
(Projecto Naufrágios de Escravos), uma joint-venture de
investigadores de museus e instituições norte-americanas e sul-africanas que
têm mantido o seu labor de anos praticamente em segredo, não só porque queriam
ter resultados conclusivos antes de qualquer anúncio, mas também para proteger
o local do naufrágio de potenciais pilhagens de caçadores de tesouros.
A descoberta do São José foi finalmente revelada esta
terça-feira, na Cidade do Cabo, no mesmo dia em que uma equipa de mergulhadores
depositou terra trazida da Ilha de Moçambique, o ponto de embarque, no local do
naufrágio, em memória das vítimas. Esta quarta-feira, também na Cidade do Cabo,
o simpósio Bringing the São José Into Memory (Trazendo à
Memória o São José) vai juntar investigadores, curadores e historiadores de
instituições sul-africanas, norte-americanas e moçambicanas em debates sobre o
naufrágio, o comércio esclavagista e a questão da memória. Não há nenhum
português entre os oradores convidados.
A investigação que permitiu identificar o São José envolveu
não só o trabalho arqueológico no local do naufrágio, mas também pesquisas em
arquivos, nomeadamente portugueses. Segundo o New York Times, em
2012 os investigadores descobriram em Portugal o manifesto de carga do São
José, com detalhes sobre a partida do navio de Lisboa, em Abril de 1794,
rumo à Ilha de Moçambique. O documento contém informação sobre um elemento que
a equipa de investigadores considerou a pista mais providencial em todo o
processo: o São José deixou Lisboa com 1.500 barras de ferro
que se destinavam a ser usadas como lastro.
Essas barras eram comuns nos navios negreiros, para manter a estabilidade
das embarcações, até porque o peso da carga humana variava nas longas
travessias transatlânticas. Nem todos sobreviviam à viagem; as barras serviam
para contrabalançar essa variação. Foi a descoberta de barras de ferro no
naufrágio que levou os arqueólogos a determinar que o navio transportava
escravos.
No ano anterior, em 2011, os investigadores tinham encontrado nos arquivos
sul-africanos outro documento fundamental: o relatório do capitão do São
José, Manuel João Pereira, descrevendo o naufrágio de 27 de Dezembro de
1794. Segundo o testemunho, que está redigido em português, o capitão e a
tripulação tentaram salvar os escravos, até porque se tratava de uma carga
rentável. Alguns foram enviados para terra numa barcaça, mas os ventos e as
correntes fortes impediram o regresso da barcaça ao naufrágio para resgatar
mais escravos. O documento refere-se aos membros da tripulação como “homens”,
mas não os escravos, segundo o New York Times.
Em 2013, os investigadores descobriram um documento em Moçambique datado de
22 de Dezembro de 1794 confirmando a venda de um homem que embarcou no São
José.
A investigação está longe de estar terminada, avisam os seus responsáveis.
Só uma pequena percentagem do naufrágio foi explorada e as condições do local
dificultam o trabalho. As correntes de água são tão vorazes que os
mergulhadores comparam a experiência à sensação de estarem a nadar numa máquina
de lavar. Sempre que há escavações, a areia volta a cobrir tudo rapidamente. Os
arqueólogos não descobriram restos humanos nem vestígios do casco.
José Bettencourt, arqueólogo marítimo do Centro de História de Além-Mar da
Universidade Nova de Lisboa, nota que as descobertas realizadas até ao momento
não são inteiramente conclusivas.
“Os indícios apontam a hipótese de ser o São José como
bastante provável. Mas não foram encontradas evidências que permitam
determiná-lo com 100 por cento de certeza”, explicou ao PÚBLICO. “O uso de
barras de ferro enquanto lastro era comum a partir do século XVII. Têm de
aparecer materiais provenientes do território português, como por exemplo
cerâmicas.”
Subscrever:
Mensagens (Atom)