Setenta ministros do Mar vão estar a partir desta quinta-feira em Lisboa numa cimeira, ao mesmo tempo que se realiza a Conferência dos Oceanos da revista "Economist"
Setenta ministros do Mar, da China ao
Kiribati, passando pelos países de língua portuguesa e praticamente todos os
mediterrânicos, para além das grandes economias azuis, como o Canadá, Austrália
e Noruega, vão estar a partir de quinta-feira em Lisboa, numa cimeira inédita a
nível mundial.
Esta reunião faz parte da Semana Azul
(BlueWeek, 3-6 de junho), uma ideia da ministra Assunção Cristas, que se
inspirou na chamada Semana Verde, que decorre anualmente em Berlim e que junta
os ministros da Agricultura de todo o mundo. Tal como este evento, a ministra
pretende fazer de Lisboa o ponto de encontro anual dos decisores ao nível do
Mar.
A realidade superou as expectativas:
Cristas contava com 20 ministros, recebeu a confirmação de praticamente 70 dos
seus homólogos. Para além destes, marcarão presença representantes da ONU, da
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), da Comissão
Europeia e da Cimeira Ibero-Americana.
Os Estados Unidos enviam a subsecretária
de Estado Chaterine A. Novelli, com a pasta das políticas ligadas ao
crescimento económico, energia, oceanos, ciência e tecnologia.
A cimeira, que decorre na próxima
sexta-feira no CCB (Lisboa), terá como ponto alto a aprovação de uma declaração
conjunta.
A BlueWeek inclui ainda um fórum
empresarial (Blue Business Forum), com a participação de 200 entidades, entre
empresas (nacionais e internacionais), centros de investigação, institutos de
ciência e investidores estrangeiros, que decorrerá entre quinta-feira e sábado,
na FIL, no Parque das Nações (Lisboa).
A nova
economia azul
Em simultâneo, decorrerá pela primeira vez em Portugal a World Ocean Summit, uma iniciativa da revista Economist e que junta habitualmente centenas de participantes. No ano passado, na Califórnia, onde se realizou a segunda edição desta conferência, o Presidente Cavaco Silva foi o convidado de honra do evento, que foi inaugurado pelo secretário de Estado norte-americano John Kerry.
Criada a partir da ideia de uma nova
economia e de um novo paradigma emergente de negócio (a economia azul), a
Conferência dos Oceanos visa colocar o Mar na agenda política mundial, reunindo
políticos e empresários para discutir temas tão amplos quanto a
sustentabilidade da atividade económica, a proteção ambiental e a investigação
associadas ao mar.
Que o mar é importante ninguém dúvida.
Cobre três quartos do planeta (1.300 milhões de quilómetros cúbicos de água),
constitui o maior ecossistema único do mundo e contribui de forma decisiva para
a existência da vida na Terra. Alimenta um vasto conjunto de serviços e
recursos, que prestam apoio à saúde humana, assim como às sociedades e
economias.
De acordo com o relatório “Do declínio à
recuperação — Um plano de resgate para o oceano mundial”, da Comissão Mundial
dos Oceanos, o valor de mercado dos recursos marinhos e costeiros equivale a
2,72 mil milhões de euros (cerca de 5% do PIB mundial).
Ao mesmo tempo, 3 mil milhões de pessoas
dependem do mar para a sua subsistência, sendo que ele assegura 350 milhões de
empregos em todo o mundo; 97% dos pescadores vivem em países em desenvolvimento.
A cobiçada sardinha
Nunca como agora se pescou tanto, o que
põe em causa a sustentabilidade dos 'stocks' do pescado mundial. Se, em 1950,
apenas 1% da pesca era feita em alto mar, essa percentagem subiu para 63% em
2006 (os últimos dados disponíveis). Nessa altura, já 87% das espécies estavam
sobreexploradas ou em vias de extinção.
O exemplo da sardinha, que tanto toca ao
português (consome 13 exemplares por segundo, segundo contas do jornal
Público), mostra bem esta realidade. Entre 2011 e 2014, a pesca desta espécie
caiu das 55.223 toneladas anuais para umas escassas 15.824 (dados do INE). Em
consequência, está cada vez mais cara: num ano, o seu preço na lota aumentou
39,3%.
Em 2006,
já 87% das espécies estavam sobreexploradas ou em vias de extinção
Este cenário de escassez é o resultado da diminuição abrupta dos 'stocks' de pescado. A sardinha, apesar de não ser alvo das quotas de pesca europeias, é objeto de constante monitorização: assim que a estabilidade dos 'stocks' é posta em causa, a pesca é suspensa. Em 2014, foi-o a partir 20 de setembro e só retomada no início de março deste ano.
Mas este não é um panorama unicamente
português. Na Califórnia, vive-se o mesmo drama: os Estados Unidos levaram 40
anos para repor os seus 'stocks' de sardinha, que estão, de novo, ameaçados.
Em Portugal, os mesmos dados do INE
mostram que o pescado transacionado em lota em 2014 caiu para o nível mais
baixo desde que há registo oficial (1969): foram descarregadas nos portos
nacionais 119.890 toneladas de peixe fresco e refrigerado, um recuo de 17,1%
face ao ano anterior. A redução das capturas de sardinha, atum e cavala é a
grande responsável pela quebra das pescas portuguesas.
A grande “sopa de plástico”
Outro dos dramas que afeta os oceanos são
as verdadeiras “ilhas de lixo” que circulam pelas águas de todo o mundo. A
maior “sopa de plástico” encontra-se no Pacífico, estimando-se que a sua
dimensão é duas vezes o tamanho do Estado norte-americano do Texas.
Até
2050, 33 mil milhões de toneladas de plástico acumular-se-ão nos oceanos
Oitenta por cento dos detritos marinhos provêm de terra e acabam nos oceanos por ação dos ventos e das correntes. De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUMA), 15% dos detritos marinhos flutuam à superfície; 15% permanece na coluna de água; e 70% repousa no fundo do mar. Segundo o relatório da Comissão Mundial dos Oceanos, 33 mil milhões de toneladas de plástico acumular-se-ão no oceano até 2050.
Alerta
mais que vermelho para este grande recurso azul que, de acordo com a ONU, terá
de ser o grande produtor de alimentação para a crescente população
mundial.
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