A embarcação já estava em fim de vida após décadas na pesca do choco. Agora, coberta por 20 mil pioneses, está exposta no Mercado do Livramento, em Setúbal
Não se lhe conhece o dono, nem as aventuras das pescarias em que participou. Mas terão sido muitas ao largo de Setúbal. E desgastantes, a julgar pelo estado em que a pequena aiola de madeira chegou às mãos de Teresa Melo. "Estava mesmo em fim de vida. Tinha buracos, que já deixavam entrar água", recorda. Mas a artista plástica deu-lhe a volta. Depois de lixar e polir o tradicional bote que os pescadores sadinos utilizam na pesca ao choco, pegou em cerca de 20 mil pioneses e na criatividade de seis instituições da terra, para ergue a mais recente peça de arte que hoje foi apresentada no Mercado do Livramento.
Mas o que significam os 20 mil pioneses dourados, com as cabeças coladas pelos três metros e meio de bote e os respetivos bicos virados para fora? "O dourado remete-nos para a fase dos descobrimentos, tão importante para Portugal e estes bicos retratam o medo e perigo que os pescadores enfrentam no mar", explica Teresa Melo, artista plástica do Porto, que recentemente chegou a Setúbal, onde trabalha como programadora de arte, na Casa da Avenida (Luísa Todi).
Agora o interior do barco. Em azul-marinho, que deixa à vista golfinhos, estrelas-do-mar, mas também redes de pesca, com peixes, conchas, mas também lixo, traduzido em bóias, cruzetas e sapatos. Até onde conseguiu chegar a criatividade das seis instituições particulares de solidariedade social da cidade que participaram no projeto.
"Nós fizemos os golfinhos e as estrelas-do-mar. Foram duas semanas de trabalho, mas nem imagina o orgulho que estamos a sentir ao ver isto expostos e tanta gente a apreciar a obra", referia Maria Ana Condensa, utente de Centro Comunitário de Santa Maria da Graça, enquanto o "Art Boat" - assim oficialmente batizado - ia atraindo dezenas de curiosos que estiveram na praça de Setúbal.
O projeto inscreve-se na iniciativa "Arte em Toda a Parte" que ao longo de mais de um ano promove a realização de intervenções artísticas em Setúbal, promovida pelo futuro centro comercial da cidade (Alegro), que abre a 11 de novembro, com a participação de artistas portugueses consagrados, artistas locais e internacionais, respeitando sempre a componente de participação da população sadina. A aiola foi já a oitava obra apresentada ao público.
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